15/12/08

PERCORREU O FUNDO DO MAR DE BICICLETA

Nessa noite mergulhou numa nuvem e percorreu o fundo do mar de bicicleta.
Atravessou continentes fazendo fogo com água, foi baleia no meio de tantas, mar e onda. Atravessou os mares deixando-se ir nas correntes, viu homens no céu e cumprimentou-os. Ainda subiu e desceu rios sendo água. Hasteou velas perdidas em mastros antigos e subiu-os ajudado por milhares de marinheiros naufragados que carregavam sacos feitos de pernas de enormes polvos. Comeu peixes de ouro e outros de marfim nunca vistos, viu escravos negros que plantavam algodão onde dormiam gigantes que mais pareciam esculturas a dormir. Quanto mais a vela subia mais náufragos chegavam. Eram aos milhares com anémonas nos olhos que saiam de buracos sem fundo. Traziam ainda os destroços das naus nas cabeças com enormes algas verdes e de muitas outras cores, lapas incrustadas nas faces e braços âncoras. Ao deslocarem-se caiam dos seus corpos restos de redes onde haviam dormitado séculos.
Escalavam a vela ajudados por sonhos de comandantes astrolábios, reis mortos e impérios já desaparecidos.
Carregavam os destroços das embarcações, dos comandantes, das cartas marítimas, escravos pimenta, ouro vagas e tempestades . Um deles com cauda de baleia fez-se à ponte e gritou: Tragam o mar para a superfície. Os outros trouxeram-no.
Ainda houve quem gritasse: Não!
Então, o mar despovoado sacudiu-os para a superfície dos países desaparecidos, reis mortos e comandantes sem naus. Nesse momento o mar foi desaparecendo lentamente e de cima do mastro perceberam que estavam perdidos. Agora sim, navegavam no céu.
Os outros não, ficaram num fundo sem mar.

07/12/08

CHEGOU COM AS ONDAS DOS DESERTOS E OS BARCOS DAS FLORESTAS

Chegou com as ondas dos desertos trazendo o sal dos doces, os barcos das florestas, os peixes dos desertos e o tai-chi de outros planetas.
Vinha presa em redes de rias e trazia um homem com cara de mar. Ao abrir-lhe a porta ainda vinha com neve nos cabelos, o Sol nas mãos e um olhar de quem comeu desertos e de quem dormiu em florestas habitadas por deuses desconhecidos.
Falou de lugares nunca vistos e de sons interiores que a perseguiam em noites passadas com os deuses transparentes. E de muitas outras cores.
Abriu a caixa que disse conter os sonhos dos sonhos e contou-me:
Os sonhos são a verdade são como as florestas portanto ouve-me bem:
Quando as árvores penetram as raízes na profundezas da terra só procuram achar a Solidez,
O alimento e a tranquilidade.
Mas olha, já reparaste que as florestas são um conjunto de muitas outras coisas? Coisas como; A solidez do amor e a paz é só alimento de muitas ideias. Ideias vindas só destas coisas que existem. Um dia se caminhares dentro de uma verás que ali também existe o doce e o sal. E todas as outras coisas que te falei. Mas olha, tudo mas tudo é uno. Mesmo aqueles que fogem das florestas voltam sempre. E sabes porque? Elas estão sempre perto de nós mesmo quando as destroem elas renascem. E olha sei o que te digo.
E sabes porquê? Sou árvore. Mas não mas fiques triste eu e muitas outras florestas juntámos-nos e construimos uma nova floresta. E sabes como a construimos? É complicado mas é possível e nós conseguimos. Fomos ao fundo do fundo e redescobrimos as coisas que tantos e tantos outros já não encontram. Como a liberdade, o equilíbrio, os sonhos, a tranquilidade e o amor. E olha que nas florestas construídas por nós também moram ideias. Umas boas outras menos. Imagina o que seriam as florestas sem as árvores que as habitam . Agora que já descobriste o porquê desta floresta ser tão livre e solta.
Agora sim, vamos sorrir nesta floresta onde se dança a salsa.
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05/12/08

O GOVERNO PRIVADO PORTUGUÊS ETC....E TAL

Querido Zé,
Tendo a tia Alzira deixado em testamento 238 acções da EDP, 43 da GALP, 762 da Drogaria Avelar, 484 da PT, 208 da Moagem Montez & Filhos lda, 13 do Milleniumm, 23 da Tasca do Ti Albertino. E até são poucas, pois a tia tinha mais. Bem mais! Mas sabes como são.... as primas.
Zé! Aqui que ninguém nos houve ainda havia mais um lote escondido e olha era daqueles que me deixou a pensar, e muito. Então não é que a tia me deixou na Caixa de Crédito Agrícola de Odemira mais 345 do PS, 295 do PSD, 43 do BE e ainda umas quantas do PP.
Mas olha,
Tendo a tia investido todas as suas parcas poupanças nestes activos políticos, e tendo ela total confiança no Prior Joaquim. Por sinal é representante de outros senhores, tal como tu.
Só te peço-te uma explicação é a seguinte: Com esta confusão toda das crises, bancos,enfim.... ando muito preocupado como deves imaginar. E sabes, a tia tinha tanto gosto nestes activos e claro, gostaria que a tia lá do céu me visse como um bom sobrinho.
Ora sendo tu quem és tenta lá explicar-me estas questões:
Que farias tu agora se tivesses as acções do PS? Visto que segundo consta estão em queda acentuada. Vendias? A quem? Onde? Achas que a solução OPA com o PSD as fará subir?
Ou o melhor será deposita-las no Banco Privado Português? É que segundo consta vão voltar a pagar aqueles juros que a malta gosta.
Que achas tu? É que sabes...a partir de agora qualquer banco pode achar que o melhor mesmo é vir para Portugal. Como sabes, a malta pagar, paga! Pago eu! Mas quem melhor que tu para me ajudares nesta hora?
Outra coisa que ainda não entendi é:
Porque será que quando um banco se sente mal. Tipo, quando num dia de Sol levam-nos o dinheiro a passear até aqueles paraísos com gajas boas, ondas fantásticas, Haitianas com flores e depois a malta aqui é paga? Bem, lá que as notas depois saltam do multibanco mais felizes, lá isso é verdade! Agora, eu tenho é de pagar a as prestações da casa e o resto é conversa. Olha lá uma coisa, os bancos também vos vão pagar com juros? Ou têm crédito jovem? Será o bonificado? Pagam todos os meses? Em que dia? Têm seguro de vida? É que sabes como isto anda, não vá o diabo leva-los para outro paraísos melhores.
Olha, queiras ou não, a tia também te nomeou no testamento, e olha que eras o menino dos seus olhos e como sabes a ela já não via grande coisa, mas ainda ouve os Professores. Quanto a mim herdei também esta falta de visão da tia. Quanto a ti não sei, mas como pode ser hereditário já sabes...
Mas olha, se tiveres algum problema também oftalmológico já sabes, tens sempre o Miguel Sousa Tavares o rapaz tem sempre soluções para tudo. E claro, também é fumador como tu.
Um abraço deste teu primo.
Alberto.
P.s Não te esqueças dos avisos dos maços de tabaco.

02/12/08

PERFUME

Era um largo de aldeia onde os velhos se sentavam esperando o Sol passar e ainda comentavam os céus. Tanto aqueles que por ali passavam já deitados como os outros ainda passantes, os doentes, moribundos e zarolhos. Diariamente comentavam ainda o carteiro que descia e subia ruas e escadas que batia portas sim porta sim.

Os olhares entre eles falavam e ajuizavam mas todos concordavam que elas as suas companheiras, recebiam havia anos e anos centenas de cartas. E todos voltaram a concordar.
Como homens isso de cartas eram coisa de mulheres. Isso era lá coisa de homens? E todos voltaram a concordar que os mais intrigava de tantas e tantas cartas recebidas era o perfume dos envelopes que invadia casas ruas e jardins. Um dos mais velhos do grupo ainda arriscou:

- Anda aqui algo muito estranho.... a minha mulher anda cada vez mais destrambelhada deve ser desse tal cheiro. Mas ela não sabe ler...

E um outro ainda disse:

- Ler perfume?

E voltaram todos a olhar-se de novo mais uma vez em silêncio.

E voltaram a olhar o silêncio de novo.

Havia um carteiro que descia e subia as ruas mas cada dia mais vergado pelo sorriso. Os silêncios cada vez eram maiores de quem o via passar. Mas os olhares mais carrancudos e claro, o mais velho que mais falara deixara de o fazer.

Que recebiam as cartas, recebiam, que as mulheres andavam meio aluadas andavam, mas que não sabiam ler não sabiam. Em relação a isto estavam todos de acordo. Um deles ainda tentou arriscar e se... e todos voltaram a olhar o chão.

Ainda a manhã era noite quando um um deles decidiu abandonar a casa. Um homem ter uma companheira feliz é estranho. Estava decidido a não voltar até estar esclarecida a questão das mulheres felizes. Mesmo assim os outros voltaram a sentar-se nos silêncios. Agora cada vez maiores.

O mais velho olhou as ruas inspirou o passado e disse:

- As mulheres estão assim tão sonhadoras porque será?

E todos o ignoraram. Mas olhando-os de novo, ainda disse:

Se falássemos com o António? talvez ele nos possa ajudar, a mulher sempre é chefe dos correios.

Voltou o silêncio que só o mais arisco voltou a quebrar dizendo:
- Eu tento!
Passaram-se os dias e o banco continuava em silêncio e c Carteiro continuava carregando as cartas em envelopes perfumados. Mesmos assim no banco chegamvan-lhes os odores e sabiam quando as cartas eram para as suas casas. Passavam dias, semanas, meses e noticias do proposto pelo amigo nada. E ele ali sentado.
O mais velho do banco começou por coçar o queixo, outro a barba, os outros três tossiram em únissono e trocaram olhares. De um momento para o outro viram cair uma lágrima da face do amigo e caiam cada vez mais e mais. Eram lágrimas diferentes. Tinham cores e formas, cheiros e fumo que desciam pelo rosto. O odor dessas lágrimas lembrava-lhes os envelopes. Ainda assim, reunidos em torno daquele amigo soltaram-se os lenços, os abraços. E depois o silêncio de sempre.
Pouco depois evaporaram-se as lágrimas de cores e cheiros, e o fumo desapareceu.
Depois voltou a lacrimejar e lentamente, retirou do bolso pequenos frascos de cores diferentes enchendo-os um a um de lágrimas perfumadas.
Nesse momento começaram a sair de bolsos nunca vistos frascos e pétalas, perfumes e lenços bordados.
Eram os silêncios.

27/10/08

O HISTÓRICO

Hoje quero correr depressa olhar o passado e fugir outra vez.
Deixa-me voltar a ser sereno e não me digas nada, porque sinto-te aqui e agora.
Mas olha, não me magoes tanto assim, só fujo de ti sabes porquê? Porque vieste todo de uma vez. Vai-te embora passado!

17/10/08

CHOCOLATES E AMOR LIVRE

Esta coisa do amor põe-me doido. Anda um homem anos e anos a ser educado para ser cortez, cavalheiro enfim... um homem a sério. (Sim porque lá em casa era assim).
Mas sabem, esta mania de termos só uma mulher, lá que dá que pensar dá.
Ora andava eu nesta triste vida de homem só, quando me caiu, vinda do céu, esta coisa do amor livre. Mas livre de quê? Bem, livre já eu sou e há muito muito tempo. Agora esta do amor livre só mim é que acontece, sim porque um tipo como eu pode estar preparado para tudo nesta vida. Agora mais livre? Mais?
Mas deixem lá, como a ideia até é fascinante e claro, como o amor que tenho, ainda não foi preso por uma louca qualquer. O melhor mesmo, é manter-me neste estado como estou. Vocês não sabem mas queiram ou não, tenho mesmo esta enorme capacidade de amar. Gostem ou não amo mesmo muita gente. A começar por uma Ulrike. Esta dama bateu-me à porta um dia e propôs-me o seguinte:
- Caro Pedro, vou encher-te a casa de amor!
Ora um tipo fica sempre perplexo nestas ocasiões, ainda por cima vinda da Ulrike. E claro disse, que sim. Também quem era o tipo que diria que não à Ulrike? Mas quem é a Ulrike?
Esta encantadora rapariga é somente a representante do amor livre aqui do burgo. Sim vivo neste país sim vivo em Portugal!
Ora andava eu à espera do amor e não é que o sacana não chegava? Mas claro pelo o amor a malta espera sempre. Sempre!
Como já pressentia algum para a troca continuei esperando até que um dia batem-me à porta e pimba! Era o amor! Mas que estranha forma de amor este, primeiro veio de carrinha 4X4, depois em caixas de plástico cor de laranja e dentro destas vinham outras de cartão castanho. Para o transportar vinham ainda pingando olhares de amor, mais duas raparigas. (Cá para mim faziam parte das caixas).
Lá lhes disse aqui em casa era hábito o amor ficar na cozinha, arrumado. Ainda pensei que estranhassem, mas como o amor é um facto muito diferente, sorriam-me de novo.
Arrumado o amor em caixas de plástico, as raparigas foram-se embora. Não sem antes me darem montes de beijos com aroma a chocolates. (O que por sinal é o normal nas pessoas que amam).
Ora um tipo como eu que vive com o amor na cozinha tem sempre tentações que vocês não têm. Andava eu ali de um lado para o outro à volta do amor, quando achei que o melhor mesmo era ir para a cama. E o sacana do amor na cozinha dentro de caixas. Só mesmo a mim!
Ora quando vou para a cama leio sempre o mesmo livro sobre astros "Abrir Astros nos Dias de Hoje. ( que, por sinal, ainda não acabei).
Bem vistas as coisas, esta de dormir com o amor na cozinha não dá! Ainda pensei telefonar para a Ulrike mas era já tarde e podia ainda acordar aquele local. E aí sim, era a revolução neste mundo! Vocês não sabem, mas ela vive num sítio onde só existe amor livre. E acordá-la a esta hora podia ser fatal para os outros seres residentes nas proximidades. Imaginem o que seria se todo aquele amor livre saísse por aí? Provavelmente amanhã já nada seria igual neste mundo.
Ainda voltei para a cozinha e as caixas nada me disseram. Ainda as beijei e nada. Mas que estranho amor este! Estando a manhã a nascer resolvi ligar para o SOS amor e levantar-lhes esta questão: Como desencaixotar o amor sem o perder? Ninguém sabia como resolver esta delicada questão. Ainda chamaram o técnico do amor livre, mas, como era livre de momento não estava.
Trabalhar hoje, não vou! Resolvi então ligar para as tais carregadoras do amor e colocar-lhes o meu problema. Tentei uma vez, outra e mais outra, por fim lá atenderam, pareciam felizes por me ouvirem. Questionei-as com o meu estranho assunto: O amor não me deixa dormir, o que faço? Riram-se e voltaram-se a rir. E responderam-me só isto: Solta-o, ele é livre como tu!

PORTUGAL SEM POBRES É COMO O MAR SEM PEIXES

O Jornal Público de hoje diz-nos que: Portugal é o país europeu que mais reduziu a pobreza.
Pois muito bem, matem-se os restantes 1,8 milhões de pobres desta coisa. E deixemos-nos de lamúrias! Portugal sem pobres é como o mar sem peixes. Nada!!
Quer Portugal agora a diminuição destas taxas de pobreza, mas afinal os pobrezinhos não fazem falta? Não pagam impostos? Não arrumam os carrinhos da malta? Não são a causa das nossas nobres causas?
Ora um país sem pobres não existe como país, nação ou outra coisa qualquer. Imaginemos o que cada um de nós faria sem os seus pobres? A criadagem fugia lá de casa, e os padeiros já se foram há muito, as beatas já não tinham os pobrezinhos nem os aleijados do comércio, os cegos começavam a ver como nós fazemos. E claro, punham-se a milhas. Os pobres gatos deixavam de ter acesso às espinhas das pobres velhas. Os pombos, coitados, morreriam de fome e claro, os padrecos, deambulariam por o céu em busca de alimento. Sim porque sem pobres não há deuses que se aguentem, nem santinhos que voem por aí.
Meus Senhores!
Foram os pobres que descobriram como a nossa riqueza é fantástica.
E agora quer a Europa acabar com estes visionários? Francamente! Ser pobre é óptimo! Cria resistências que mais tarde ou mais cedo lhes serão vitais. Estes seres são mais resistentes às doenças que nós. Sim que nós! Os pobres mesmo sem a nossa lareira e o nosso Cartuxa tinto. Resistem sempre mais, se não vejamos; Sendo a crise um fenómeno do diabo o melhor mesmo é voltar a ser mais católico. Enfim.... perdoai-me Senhor.
Mas Senhor! Ainda aí estás?

14/10/08

OS DUENDES DEPOIS

Deixa o vazio e vem cantar nesta floresta de duendes, não inventes histórias de jornais e tvs. Vês como te ris? Vês? Acredita as coisas mudam movem-se e realizam-se, e afinal, que sabes tu do amor? Deste e dos outros, diz-me porque nada sabes de ti? Deixa-os contar-te histórias de aviões, bolsas e Buches. Trás os sonhos, não percas o tempo. E vem, vem voar nesta dança de novos risos. E ouve as nuvens.
Mas deixa-me falar-te neste fórum da verdade, deixa-me contar-te como aqui a luz o movimento e a claridade se reencontram. Estes sorrisos são meus.
Os duendes vêm depois.

12/10/08

OS HOMEMS CAIEM DO CÉU

Daquele céu caiam enormes pacotes de muitas cores e formas. Era sempre assim quando chegava a Primavera. E aqueles enormes pacotes desciam do céu . Mas fora nesse dia que os homens daquele lugar haviam partido havia anos e anos.

Ali ninguém entendia o porquê desta decisão. Mas foi numa manhã de grandes chuvas e trovoada que todos partiram. Partiram os homens deixando este sítio repleto de mulheres, crianças, rios, casas e muitas viúvas. Viúvas não daqueles que partiram, mas daqueles que ainda não voltaram.

Naquele dia de festa como sempre reuniram-se em torno daqueles pacotes caídos do céu. Juntaram-nos por cores, peso e medidas e ainda houve quem quisesse devolve-los ao céu com receio de alguma doença. Mas a decisão colectiva não foi essa.

Foi abrirem os pacotes como sempre nas suas casas. Como sempre ajudaram-se mutuamente no transporte de casa em casa e de rua em rua. Era costume serem preciosos os conteúdos vindos do céu mas estranhamente começaram a sentir-se inquietas, ansiosas, revoltadas e inseguras. Em todas as ruas e praças a sensação era a mesma.

Lentamente começaram a ouvir o ranger dos pacotes e fugiram deixando-os nas ruas, praças, campos, casas, pontes e hortas. Por toda a aldeia se ouvia aquele ranger cada vez mais aterrador. As ruas ficaram desertas, as janelas fechadas, as chaminés trancadas, as crianças caladas e o vento parou.

De rompante ouviu-se um monumental estoiro de madeira a quebrar. E as casas uniram-se mais. As ruas fugiram e deixaram as praças mais sós do que nunca. De repente, como se de um trovoar se tratasse ouviram-se passos imensos e tremendos.
Ainda ouviram vozes vindas do além, ainda houve quem visse uma perna maior que a sua casa, outras houve que disseram ser homens de grandes barbas azuis e de botas gigantes.
Foi assim que amanheceu, foi assim que voltaram as praças às ruas ainda desertas. E foi também assim que as casas se voltaram a abrir. Abriram-se ainda as janelas e saíram mulheres e crianças. Mas já ao longe se pressentia o vento.
Nas praças ainda houve quem visse os rastos das enormíssimas botas, quem tenha visto os homens de barbas e os longos cabelos. Uns diziam azuis outros de outras cores. Mas eram os homens. Ainda se disse serem aqueles que fugiram, ainda se disse serem os maridos fugidos e os pais ausentes.
Ainda assim, reuniram-se para consertar os estragos deixados por as enormes botas nas praças e ruas. Consertaram as rachas das casas, os vidros quebrados e voltaram a colocar as habitações nas suas ruas de sempre.
Ainda era manhã quando chegou o vento às ruas e praças. Mas trouxe consigo um cheiro antigo.
Era o cheiro dos maridos desaparecidos ausentes e fugidos. Era o cheiro da última madrugada.
Primeiro chegaram as grandes pernas e troncos, mais atrás as cabeças. Chegaram de fraldas e chuchas. Olharam as suas mulheres e pediram-lhes beijos. Elas deram-lhes os peitos.

08/10/08

PARA A ALICE

Um dia, quando os teus pais te contarem que os ursos falam. Acredita. Quando um dia eles te contarem histórias ouve.
Sabes Alice, os ursos sabem muitas coisas, irão contar-te histórias de patos amarelos que vivem em lagos nos céus. Mas olha, os patos amarelos têm asas e voam e as asas fazem voar. Um dia, quando um pássaro azul pousar no teu chapéu cor de trigo não lhe digas nada. Deixa-o cantar. Conta-lhe uma história porque sabes Alice, os pássaros são amigos dos ursos e das flores que dormem no teu quarto. Um dia, quando descobrires as grandes searas semeadas de falcões e flores, vai e voa! Voa! Hoje é tua esta Primavera.

14/09/08

RELAÇÕES DE CHOCOLATE

Quando abrires a tua mente não a deixes a sós contigo. Deixa-a contar-te as tuas histórias e respirar este novo som. Ouve-o.
Conta-lhe o que ele ainda não ouviu e conta-lhe ainda como aqui tudo é diferente.
Verá agora como é analisado e de um estranho ainda se trata. Diz-lhe ainda que neste sítio existem muitos outros tempos reciclados. Fala-lhe e não tenhas receio. Mas não o deixes só
conta-lhe como este lugar é diferente, conta-lhe como ele agora é parte de um todo. Diz-lhe ainda que neste sítio a chuva é de muitas cores, conta-lhe ainda que as árvores, aqui, não têm segredos que só contam à Lua, conta-lhe que neste lugar as relações são construídas de chocolate, diz-lhe que a liberdade, aqui, é feita de todos os olhares e de todos os gestos. E ainda muitas outras coisas.
Mas se o sentires partir não o deixes, sem antes lhes dizer: Olha, se um dia quiseres podes voltar. Porque aqui tudo renasce.
E quando as aves voltarem dos seus voos em corpos de novos seres. Outros seres mais livres renascerão. Agora sim.

04/09/08

ANGRA DA CERVA

Quando o mar voltar a ser teu navega-o.
Mas quando as ondas voltarem à tua praia fica.
E quando o céu e o mar se amarem
ainda ao longe se ouvirão as ondas da tua praia.
E tantas serão as vagas e tantas as praias que amantes se farão.
Mas hoje e sempre, todos os mares irão dormir como amantes
onde agora e sempre as ondas desaguam.

03/09/08

OS SONHOS NÃO SÃO DE ALGODÃO

Reuniram-se naquela manhã cor de arco íris mas chegaram vindos daquele céu. Os outros desceram das montanhas construídas também por eles. Eram montanhas do tamanho dos sonhos e eram tantos, tantos os sonhos e tantos os seres que delas emergiam. Mas todos deslizavam sensualmente até os movimentos pareciam ter sido retirados de um lago. Serenamente foram-se
reunindo como os bandos de aves o fazem. Eram jovens e menos jovens, homens e mulheres, mas todos comungavam dos sonhos certos. todos estavam certos disso. Reunidos e sentados nos nossos sonhos ainda a ouvimos.
Agora entendi que os sonhos não são de algodão.

17/08/08

ACORDAR DE REPENTE É UMA SITUAÇÃO GRAVE E PODE LEVAR TEXTOS COMO ESTE

Quando um dia acordar não se levante de repente. Mas sim lentamente, primeiro levante o braço esquerdo sempre na direcção de Meca. Depois, deve realizar a mesma operação com o esquerdo. Mas agora na direcção de Sudoeste. De seguida mova o pescoço no sentido oposto ao do ponteiro do relógio.
Toda esta operação pode parecer-lhe estranha. Mas não é! Se lhe doer não tente chamar a mãe ou o Pai. É normal as mães que encontram os filhos nestas figuras ficarem muito preocupadas. E como todos temos mães. O normal é elas contarem tudo umas às outras. Ora como todos sabemos, esta coisa das mães é de facto um síndrome colectivo. Portanto o melhor mesmo é que realize os movimentos como estão descritos. De seguida tente desenvencilhar-se por si próprio mas não insista! Tente! Tente perceber como acabou de chegar a esta situação! Tente entender o facto! Tente de novo soltar-se deste grave imbróglio em que acabou de se meter. Mas seja lá como for, volte a tentar. Insista! Insista!
Depois já sabe, se a situação se tornar insustentável pode sempre realizar outra fantasia. Sim existe sempre uma fantasia dentro de nós. Sim porque esta coisa de sair de casa assim sem pensar no seu futuro não dá. Imagine que hoje não estaria metido nesta embrulhada. Imagine ainda se já tivesse já saído de casa onde estaria a esta hora? Muito provavelmente estaria agora aos berros com o motorista do autocarro. Até aposto que era o tipo do costume! Portanto queira ou não, o melhor mesmo é desenvencilhar-se por si próprio! E quanto antes.
Não sei se já percebeu a vidinha que tem? Não sei se já percebeu, mas vai ter que aturar aquele tipo do autocarro nos próximos anos. Não sei se já entendeu, mas de facto, o melhor mesmo é comer as compotas de tomate! Gritar basta! Voltar a brincar às escondidas com a sua prima Luízinha! Fugir dos lobos! Mas claro, solte-se! Em última instância tem sempre a mãe. Porque de facto esta é sua vidinha. Chame por si! Volte a insistir! Ouviu-se? Não? Não?? Então está mesmo tramado! Tramadissímo.

13/08/08

RELÍQUIAS DE OUTROS TEMPOS

Esta fotografia é de Relíquias e propriedade da Câmara Municipal de Odemira. Agora de que ano ou década será?

04/08/08

RELÍQUIAS DE OUTROS TEMPOS

Fotografia de Luís Proença
80 ANOS DA MEMÓRIA DE RELÍQUIAS
NUMA EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA
Com o apoio do Município de Odemira da Junta de Freguesia de Relíquias, bem como da Casa do Povo daquela Aldeia Alentejana, inaugura-se a 10 de Agosto uma exposição de fotografias intitulada "Relíquias de Outros Tempos". São cerca de 80 peças que documentam 80 anos de História da Aldeia e do concelho, entre 1890 e 1970. Uma das singularidades da iniciativa é resultar predominantemente de um levantamento de fotografias que são pertença de famílias locais, por elas guardadas, algumas ao longo de gerações. Sendo assim uma contribuição de muitos habitantes locais.
O certame está aberto ao público até dia 20 de Agosto no Casão do Diamantino, após o que será apresentado no adro da igreja de Relíquias, com projecção de uma centena, durante as Festas de Relíquias, de 15 a 17 deste mês. A exposição é resultante de uma proposta e de uma recolha de Pedro Portela, com o apoio Maria do Nascimento. A iniciativa está enquadrada por uma apresentação do Historiador António Quaresma,sublinhando o largo significado sociológico e cultural das peças exibidas, que contribuem para a reconstituição da vida, do trabalho, da cultura das mulheres e dos homens de Relíquias.

23/07/08

AQUI OS SONHOS NÃO FOGEM, NEM VÃO ALI E JÁ VÊM

Aqui onde nasce um rio num monte e o mar num cerro. Moram ideais.
Os meus e os teus. Aqui é assim. Os sonhos não fogem nem vão ali e já vêm.
Mas aqui neste monte contou-nos:
Quando eu era novo semeei as ideias com mãos de terra. Depois semeei as mãos e comecei a colher as ideias em tamanhos maiores. E estranhamente começaram a nascer das minhas mãos legumes gigantescos e frutos muito coloridos. Eram aos milhares as cores dos outros que me vinham ver e ouvir. Vieram as Universidades, os Astrónomos, os Matemáticos e muitos muitos outros. Escreveu-se nos jornais vieram as televisões e enviaram-se e-mails.
E ainda vieram os que não tinham mãos de terra nem outras ideias. Vieram ainda os Sábios os Químicos e muitos outros. Mas hoje contei-vos só mais um sonho. É real.

20/07/08

A PATAGÓNIA É DE FACTO INSÓLITA

Esta coisa das relações é de facto surreal. Ora como todos sabemos temos sempre alguns problemas destes durante a nossa curta existência. E esta história de mulheres homens e afins é mesmo um problema. Ora estando eu esta tarde a matutar em relação a este assunto decidi o seguinte. Um tipo como eu que vive na Patagónia sítio este, onde existem sempre uns artistas que se questionam com a singela questão: Porque que será que este tipo vive sozinho? Porque será? Queiram ou não os os leitores deste texto esta questão é mesmo muito recorrente.
Ora não tendo eu uma dama. Mas sim um cão. não tendo eu uma mulher. Mas sim um jardim. E claro, não tendo eu filhos mas tendo sempre os dos outros.
Estando eu nos 40 e tal e solteiro como convém a tipo decente e com juízo. E estando as minhas encantadoras amigas casadas e já há muito tempo. Decidi a partir de hoje constituir o Instituto de Apoio a Casadas Amantes Malucas & Afins. (I.A.C.A.M.A)
Como sabem. Esta coisa de sermos solteiros e bons rapazes tem porras! Mas como qualquer organismo tem que ter uma boa Secretária e a Madalena estava um pouco em baixo. Até andava assim...digamos... um pouco mais em baixo. E como temos que ser uns prós outros! Vai daí convidei-a logo ali para um fim de semana na casa do Tio Antunes. E como casa também é fantástica a rapariga lá animou.
Ora após várias consultas telefónicas às nossas encantadoras amigas decidimos: Marcar umas reuniões e depois de muitas e muitas reuniões estiveram presentes: A Teresa a Marta e muitas, muitas outras. Decidimos por unanimidade o seguinte. Claro, mais elas do que eu. Mas decidimos. Primeiro: Propor aos tipos da reciclagem a instalação à semelhança dos vidrões de homemdrões. Esta decisão foi logo ali aprovada por unanimidade e com carácter urgência. E consequentemente enviada para a respectiva empresa. Que por sinal, depois de um longo tempo de espera e confusões internas lá nos respondeu prontamente. Estando actualmente a decorrer a sua colocação por todo o país.
Portanto como todos nós os homens já percebemos, a partir de agora e a qualquer momento podemos vir a encontrar-nos-nos numa desta situações. Ò diacho!
A outra questão levantada mais concretamente foi: Tendo os homens, não todos, mas muitos a ideia peregrina das "meninas" aqui fica a outra questão levanta por a Vera.
Esta coisa dos tipos dizerem que são machos, charmosos, engatatões enfim... o costume. E depois irem às meninas sempre me deixou de unhas em riste. Mas se assim porque pagam? Ò minhas amigas! Basta! Então e se for lá um tipo sem dentes? Elas recusam? Não! E se for um com 250K? Elas recusam? Não! E mais! Se for um se cheta? Mas com os tais predicados aceitam-no? Não! Claro que não!! Portanto caras amigas se eles são mesmo machos! Charmosos, encantadores e sensíveis! E também os ditos engatatões. Porque será que pagam? Porque será? E claro eu concordo com elas.

18/07/08

PABLO NERUDA

Então lá chegou o carteiro com som de Neruda. As imagens e o texto vinham com ele. Assim só. Depois ficou refém dos textos recebidos da música e das paisagens de Pablo. Mas na viagem sentiu que o olhar se perdia do som. Foi assim que partiu e foi assim que regressou. Com ele ali. Mas quando chegou ele ainda estava ali esperando por ele. O Pablo e o Neruda também. Mas amanhã quando o farol acender a luz vou dizer-lhe: Olá Pablo Neruda. E aí, pode ser que ele me diga: Gostei de te conhecer. Mas depois quando ele partir ficará o farol e luz de Pablo. E o mar de Neruda.

14/07/08

DIGAM

Digam aos astros para fugirem
E digam aos Pianistas para tocarem sempre.
Digam-no também aos pianos e aos violinos.
Digam ao Mar para ficar ali.
Digam aos pincéis para pintarem
Digam às letras para pararem.
E digam aos Santos que desapareçam
E aos loucos para fugirem.
E aos bruxos basta!
Digam aos artistas para saltarem nos palcos.
E digam ainda aos escritores que comam os livros.
Digam ao céu que fuja depressa!
E digam aos outros que estejam calados.
E digam ainda que o silêncio é agora.
Mas digam-no agora.

12/07/08

AS CORES

Guardadas em tubos saíram muito lentamente. Primeiro foi o amarelo. Depois chegou mar. (O Mar chega sempre).
Soltas as telas, formaram-se as velas. Com barcos, marinheiros e ondas enormes. E peixes que moravam nas árvores.
Depois o pintor chamou o vento. E ele veio em forma de enorme vaga. De seguida, colocou a vaga dentro de um frasco onde estavam os restos do céu das vagas e do vento. ( As telas sorriram). Agora sim!
Como era seu hábito o vento era sempre o último. E secou todas as vagas e todo o mar. E as cores secaram. Mandou parar os marinheiros e os marinheiros pararam. E os peixes dependurados nas árvores.
Depois quando voltou a olhar o horizonte da sua janela não viu as vagas. Os marinheiros os peixes ou outra coisa qualquer. O Mar sim.
Depois abriu a porta do atelier e partiu no barco que tinha pintado.

11/07/08

TAMERA ALDEIA SOLAR

Sonharam ideias e construíram as vontades, trouxeram cavalos, aves e tantos outros seres.
Nunca entendi de onde trouxeram aquele astro em forma de ave branca. ( É tão grande. )
Vieram em balões e zeppelins coloridos, montaram tendas de muitas cores e encheram-nas de ar . E também as casas de madeira e terra . E o céu gostou.
Construíram lagos e as plantas e animais voltaram, conversaram com as nuvens e elas disseram: Chuva!
E encheram-se os lagos de água e peixes, uns nadavam, outros entreolhavam-se mas todos tinham uma luz diferente.
Semearam flores e elas floriram, lançaram ideias aos rios e elas foram. E ainda disseram ao Sol: Fica. E ele ficou.

20/06/08

O PIANO

A Avó tinha ouvido para a música, o miúdo também.
O piano andava por ali havia anos e anos
a Avó como todas, tinha um piano.
O instrumento fora mandado afinar
o Explicador era o mesmo de sempre.
As tardes passavam-se de tecla em tecla
e miúdo dava o que podia.
O Mozart desancava no Beethoven
a Avó e o Explicador entre olhavam-se,
O Explicador dizia Schubert.
O miúdo olhava o Schumann,
as teclas pretas eram Berlioz.
A Avó depenava o leque, o explicador dormia-lhe no regaço.
O miúdo comia as teclas brancas, as criadas serviam-lhe Deus com amoras. ( Ele comia. )
O Berlioz o Beethoven e o Schubert depenicavam o explicador
e os restos da Avó no estendal.
As criadas trouxeram o miúdo já muito branco.
Ele o Berlioz disse: Sinfonia Fantástica, Op. 9 8.47
e o Schubert disse: Allegro Moderato
por fim o Mozart: Molto Allegro Molto Allegro.

19/06/08

A EXPOSIÇÃO

Percorreu o Alentejo em busca daquele passado a preto e branco. Bateu nos montes brancos ainda habitados, calcorreou ruas desertas de sons.
Alguns dos mais velhos ainda tinham retratos do campo com searas e papoilas, bestas e carretas, feiras bailes e crianças, sorrisos, mercados e matanças.
Não que me tenham contado, mas ainda existiam nesse lugares Montes e searas, os bailes as feiras, os casamentos e as ceifas, as ceifeiras com lenços e homens vestidos preto nas suas montadas. E mulheres engalanadas.
Quando as fotografias eram a preto e branco não havia chaparros castanhos, não havia cal nas paredes. Mas havia o campo habitado as Aldeias e os Montes eram crianças. As escolas tinham mestres e tantas outras coisas.
Mas quando as fotografias eram a preto e branco, o Sol nascia mais cedo a lua não era assim. Redonda. (Dizem.)
Mas nas Aldeias e nos Montes, onde as casas eram de terra pedra e pó.
Ainda existe o mesmo do mesmo, ainda os Montes usam pingalim, ainda os pátios tocam Mozart. Ainda as buganvílias servem a groselha, ainda as criadas chamam por os meninos.
Ainda agora os homens em Junho voltam a tirar a cortiça, ainda hoje as mulheres no verão voltam a caiar os homens de preto.
Mas ainda hoje, os velhos comem a Lua aos domingos.
( Dizem.)

13/06/08

CAMIONISTAS, GATOS, PSIQUIATRAS, TERAPEUTAS DA FALA, GATOS, TAXISTAS E AS GAJAS

Nós os Padeiros das bicicletas, os Ardinas das bancas, os Agricultores de bananas, os elefantes do Jardim Zoológico e o Lince da Malcata, os Jornalistas, os Terapeutas da fala, os Psiquiatras, os doentes do coração, os Técnicos de informática, as gajas deste país, as Floristas e claro ainda, os gatos deste país.
Vimos propor ao Mário Hino o seguinte:

1º Nós os Padeiros das bicicletas exigimos: Um apoio para os pneus e os respectivos remendos. E já agora subsídio de 12% para o passe. Pois também temos que sair de casa.

2º Nós os Ardinas das bancas exigimos: Um apoio de 6% para a instalação de novas bancas e já agora, um subsídio de 5% para a gasolina. Pois também temos que sair de casa.

3º Nós agricultores de bananas exigimos: Mais um apoio para a cultura no continente. E já agora um apoio de 34% para os estudos dos filhos. Pois eles estudam.

4º Nós os elefantes do Jardim Zoológico exijamos: Um apoio de 67% tipo moedinha. Pois com a crise actual até as moedinhas na tromba nos faltam.

5º Nós os Linces da Malcata exigimos: Um apoio célere de 100%. Pois o coelho é escasso.

6º Nós os Jornalistas exigimos: Um apoio de 12% os leitores para a aquisição dos diários. Pois a situação é muito negra.

7º Nós os Terapeutas da fala exigimos: Um apoio de 23% para a aquisição de doentes. Pois já não sabem o que dizem.

8º Nós os Psiquiatras exigimos: Um apoio clínico de 100% por parte do governo.

9º Nós os doentes do coração exigimos: Um apoio de 90% para a aquisição de razão

10º Nós as Floristas exigimos: 100% mais rosas. Pois as que ainda restam estão murchas.

11º Nós os técnicos de informática exigimos: Um apoio de 10% para a aquisição de ratos.

12º Nós as gajas deste país vimos exigimos: Um desconto de 20% para os clientes habituais.

13º Nós os gatos de Portugal exigimos: Um aumento de 12% do peixe nas latas.

14º Nós os Taxistas Exigimos: Que todos os clientes tenham um desconto de 300%. Se não.....

15º Nós os Agricultores da tanga exigimos: Alem de os subsídios do leite, das galinhas, do Sol, da Lua da chuva, dos bonés mais 150% de apoio para a compra de galochas. Se não....
E nós os deputados da nação exigimos que venha o verão. E depressa.

25/05/08

CARTA ABERTA AO PRIMEIRO EX FUMADOR

Meu caro,
Como sabes, as coisas vista do céu são sempre vistas por um Santo. Lagarto! Lagarto! Lagarto!
Havia uns dias para não dizer alguns meses que a pressentia.
Creio que chegou assim de mansinho como quase todos os que não querem ser vistos. Mas mesmo assim pensei: Se ela quiser que apareça.
Mas como a malta... mal ou bem, vai sempre ouvindo uns tipos que afirmam a pés juntos que ela ainda está para chegar. Ainda por cima esses tipos falam-nos todos. Mas todos os dias, em que ela é ficção e ainda por cima em cima de palanques.
Mal ou bem decidi-me por uma conversa com o Guilherme. Esse sim, é de facto um tipo que sabe! Mas quando o meu amigo me disse que sim, que ela já andava por aqui pensei: Afinal já chegou mesmo!
Ora como eu sou um tipo que espera pelas damas de outra forma, fui logo ao supermercado comprar umas tretas. Sim, não me vá ela fazer uma aparição e um tipo não ter nada em casa.
Mesmo assim quando se olha para a Cris não é o comum dos mortais que lhe fica indiferente. É de facto uma espécie de aparição. E ainda por cima muitas vezes causa sensações de mal estar.
Mesmo assim sei receber os convidados. E lá fui ao supermercado.
Ao chegar dou de caras com Tiago que me disse logo: A Cris já chegou! Eu sei, eu sei! Realmente a Cris é de facto muito conhecida de nós todos não fosse ela ter andado afastada deste sítio.
Mas claro, ela é de todos.
Lembro-me ainda muito bem do Tiago e o Guilherme em minha casa. (já lá vão uns anos.)
A gritarem: Isto só pode ser coisas da Cris! Ò Cris! Isto é lá coisa que se faça? Claro, ela nada dizia.
Mas durante uns anos andou desaparecida, talvez por as nossas vidas terem seguido outros rumos havia anos que não a víamos. Mesmo assim parece que voltou agora, se bem que estranhamente nenhum de nós ainda a tenha visto. Mas claro que chegou, parece muito mais comprida e tem mais um E.
Ora como a Nossa Senhora de Fátima também deve estar para chegar. Só peço que chegue depressa! E que leve a Crise quando for ter com os outros três. E já agora que por lá fiquem na paz do Senhor.
P.s Não sei se sabes, mas os vícios são de facto coisas do diabo. Olha, fumar pode provocar morte lenta e dolorosa. Assim diz a tabaqueira. Mas ainda diz: Para deixar de fumar, consulte o seu assessor de imagem ou contacte o seu farmacêutico.

22/04/08

EXISTEM SITUAÇÕES MUITO MUITO COMPLEXAS

Esta coisa de sermos homens é de facto muito muito complexa. Mas vou tentar não ser muito muito complexado.
Esta coisa dos telefones, telefonemas e afins deixa-me de facto num estado muito, muito preocupado. Este problema é muito muito desconcertante anda um tipo ao telefone, e depois fica assim, neste estado critico. Basta!
Mal um tipo começa a falar fica logo neste estado. Ora isto assim, é muito muito grave um tipo como eu? Ficar assim? Neste estado? É muito muito chato.
Ontem liguei logo para os putos da TMN e disse-lhes logo: Oiçam lá ou seus cretinos! Vocês acham normal um tipo ficar neste estado quando pega no telefone? Claro desmancharam-se a rir ainda assim, voltei a insistir, mas como a situação se complicava cada vez mais telefonei a uma amiga. Por sinal muito amiga.
Eu bem tentava explicar-lhe mas de facto, a situação era grave de mais.
Tentei explicar-lhe de novo, mas ela, como é muito, muito minha amiga disse-me logo: Olha Tiago sabes uma coisa? Eu de facto sou muito, muito tua amiga mas sabes, a mim também me acontece o mesmo.
Nesse momento tirei a mão do bolso e como sou muito muito amigo da TMN pensei: Já sei! Tudo isto me acontece porque aderi a uma promoção da TMN. A Casa T.
De quem por sinal sou muito, muito amigo. Mesmo muito.

ALGUÉM HÁ-DE ESCAPAR

A genealogia tem destas coisas, entre vivos e mortos alguém há-de escapar
Manuel, Castello, Fogaça, Fontoura, Sofia, Maria, João, Pedro, Romeu, Teresa, Margarida, Jardim, Rodrigues, Isabel, Helena, José, Colen, Pereira, Alves, Portela, Almeida, Mata, Aparício, Baptista, Joana, Alice, Rafael, Monteiro, Catarina, Luísa, Carlota, Ana, Mariana, Mendes, Branco, Leitão, Andrade, Crato, Mafalda, Marta, Carlota, Sofia, Silva, Margarido, Manuel.
E ainda tem, Lagos, Lisboa, Porto, Envendos, Monchique, Aljezur, Almeida, Leiria, Cascais, Odemira, Moncarapacho, Silves, Oeiras, Monte Clérigo, Torres Novas.
E ainda, 1876, 2008, 1643, 1987, 2006, 1938, 1648, 1598, 2003, 1954, 1932, 1560, 1432, 1629.
E ainda, Mergulhadores, Artistas, Palhaços, Escritores, Condes, Viscondes, Loucos, Líricos, Naturalistas, Marqueses, Desempregados, Engenheiros, Escultores, Professores, Médicos, Generais, Coronéis, Psiquiatras, Jornalistas, Vigilantes da Natureza, Publicitários, Economistas.
E ainda, chuchas, condecorações, peluches, cinema, teatro, palcos, espadas, balões, comboios, peixes, criadas, aquários, condecorações quintas e montes, Alentejo, livros, catrapásios, jornais, revistas, barcos, artigos, quadros, livros, jardins, oceanos, árvores, cristais, impedidos, choros, gritos.
E claro loucos e tangos, muitos tangos e muitos loucos. Loucos?

29/03/08

CHARRETTE AZUL

Veio entre um século e outro mas lá acabou por chegar de charrette azul.
Trouxe criados e maletas, caixas e pós de muitas cores, lamparinas de fogo e cheiros medonhos. Mas trouxe ainda um banco sem pernas onde se sentou.
Depois, os cheiros correram de rua em rua, de beco em beco, de janela em janela e de repente todos o queriam ver. Ver as caixas, os pós, as lamparinas de fogo e as suas velhas maletas.
Rapidamente formou-se um circulo em sua volta. Eram crianças de muitas cores, homens com chapéus de palha, mulheres com narizes de raposa e velhos com orelhas de elefante. Mas quando os olhou todos se calaram. Nesse momento, chamou os cheiros medonhos que empestavam aquela terra e num ápice todos os cheiros terríveis voltaram para dentro das caixas brancas.
Aterrados os homens de chapéus de palha gritavam aos céus, as mulheres com narizes de raposas protegiam as crianças de muitas cores. Então, para espanto de todos, desmontou as ruas e as casas empacotou as janelas e também os becos. Depois, guardou a maleta, comeu o criado
e partiu na charrette Azul.

27/03/08

O CHOCOLATE

Envolta em chocolate andava adormecida. Mas quando o sol reapareceu o chocolate dançou nos corpos derramados. Eram as taças do tempo em copas antigas.

26/03/08

OS EXCEDENTES DA FUNÇÃO PÚBLICA SÃO UM PROBLEMA ECOLÓGICO

Se não vejamos: Existindo espalhados por este País milhares de detritos como por exemplo: Plástico, cartão, vidro, baterias e existindo ainda os correspondentes vidrões, papelões, plasticões, onde nos é pedido constantemente e por todos os meios que os depositemos devidamente espalmados e partidos enfim... aquela treta toda.
Estando este governo em fase de nos anunciar que Deus nasceu em Fátima e que todos os Portugueses já são cultíssimos. Ainda nos vai convencer que de facto os funcionários públicos são resíduos perigosos.
Ora como o chefe já foi ecologista aqui lhe deixo desde já uma solução:
O princípio do utilizador pagador.
Colocar em todas as portas dos ministérios um Públicão. Estes deverão ser transparentes, só assim os Portugueses poderão ver os tais tipos gordos, preguiçosos e sem prática em banda larga. Mas chamo-o desde já a atenção para um pormenor, estes resíduos devem ser colocados em aterros próprios para este efeito. Quiçá podem estes detritos conter toxinas que ao serem inaladas causam ardor aos eleitos. Assim, sugiro o seguinte: Após o transporte colocá-los em molho de soja com duas partes de sumo de limão de preferência em aterro próprio. Na impossibilidade de tal sugiro ainda o Jardim Zoológico do Barão de S. João. Ou talvez ainda uma área protegida, onde pudéssemos implementar um observatório com estes espécimes de facto em vias de extinção. Assim, teríamos sempre a possibilidade de arranjarmos uns todo-o terreno e vê-los como aquilo que são. Uns espécimes de facto em vias de extinção.
Agora, ainda teríamos a hipótese de arranjar uns estágios para os Biólogos recém formados.
Mas se da facto esta alternativa também vier a necessitar de um estudo de impacte ambiental ( demorado e dispendioso), ainda nos resta sempre a incineração em Souselas ou Setúbal.
Mas Vossa Excelência melhor o decidirá.

23/03/08

A CADEIRA ENCARNADA

Hoje acordei revoltado comigo mesmo. Anda um tipo aqui a ver se a coisa se aguenta quando lhe cai uma destas em cima.
Então não é que logo pela cedinha apanhei logo com uma das boas? Estava eu a por a minha cadeira de lona encarnada no meu velho Citroen. Sim no Citroen, imaginem ainda tenho um, com bancos e tudo. Agora esta história da cadeira encarnada é assim: Andava eu a ver se ainda as encontrava à venda. Mas nada. Ora o ano passado fui ali a Vila Nova de Mil Fontes e não é que dei com umas quantas azuis, encarnada e tudo. Tudo ali no passeio.
Esbaforido corri para a loja da minha vida, sim um tipo como eu ou aproveitava esta oportunidade ou nunca mais. Se soubessem à quantos e quantos anos, andava eu à procura das cadeiras de lona encarnadas? Pois é, mas não sabem. Eu sei, quatro quatro anos.
Bem, mas deixemo-nos de conversas e voltemos a esta manhã. Sim porque esta história começa assim: Estava eu a por a cadeira no carro. Sabem, eu mesmo assim vivo numa aldeia, portanto existem sempre umas senhoras. Claro, estas daqui são sempre as mesmas velhas retorcidas. E como em todo o lado estas gostam muito de estar sempre sempre à janela. Ora viram-me com uma cadeira às costas ainda por cima de lona encarnada. E pensaram logo aquelas coisas, que só as velhas que têem uma janela virada para nossa porta pensam.
Onde irá este rapaz com a cadeira?
Só um tipo como eu que têm um labrador, um citroen e uma casa fantástica. Tem lá de dar explicações a uma velha? À velha não dou! Mas a vocês...sabem, eu costumo pegar na cadeira de lona encarnada e às vezes, Só às vezes, ponho-a ali no banco de traz e lá vou eu com ela ali estrada a fora. Mas não pensem que é uma noia. Ando muito.
Vocês não sabem mas aqui no Alentejo um tipo farta-se de andar. Mas depois quando chego ali a um monte abro a cadeira e o livro. E sento-me. E sabem que mais? O Labrador lá vai à vida dele, mas volta sempre à cadeira encarnada.
Agora, as velhas? Raios partam as velhas!

21/03/08

O MANUEL

O que ele não sabia era que a mãe tinha vivido numa praia .
Ele também não sabia que a praia tinha um bicicleta amarela. Mas a bicicleta amarela todos os dias andava, andava, andava. Mas o que o Manuel não imaginava é que era a mãe a guia-la por estradas com muitas curvas. Era assim Manuel:
No inverno chovia quase todos os dias, mas nesses dias, havia tanto, tanto frio e tanto vento. Mas Manuel, era tão bom andar na bicicleta amarela e apanhar chuva.
Mas olhe Manuel...todas as praias têm uma bicicleta amarela.

06/03/08

DÓ RÉ MÍ FÁ SÓ LÁLÁ SÍ DÓ. ESCALA TÉCNICA

Sócrates,
Só tartes, Só artes, Só martes, Só rites, Só istos, Só riscos, Só sósias, Só iscos, Só quetes, Só Fin, Só Landia, Só ar, Sorry!
Só risos. Só assim!

03/03/08

OS SILÊNCIOS

Se o silêncio morar contigo conta-lhe coisas. Diz-lhe para parar de te olhar assim. Assim, como tu o olhas. Leva-o contigo e deixa-o só dizer, dizer, dizer. Talvez o entendas agora. Mas se os silêncios quiserem silêncios. Grita!

02/03/08

LOUCA VESTIDA DE BRANCO

Cada vez que abro a janela entra-me uma mulher louca vestida de branco com uma borboleta amarela no cabelo.
É seu hábito contar-me histórias de outros tempos e sentar-se comigo na varanda redonda.
Hoje talvez porque fizesse Sol disse-me que: Quando era nova os loucos eram colocados em jardins suspensos no céu. E só estava ali porque tinha fugido de um jardim havia muito tempo. Mas que qualquer maneira os outros tinham ficado todos a comer a Lua. E como só poderiam descer depois da Lua comida, deviam estar para chegar porque a Lua estava muito pequena.
Falou-me ainda de Jardins com lagos azuis, médicos com asas e Hospitais com fantasmas, casas que comiam as pessoas, borboletas dos mares e caçadores de nuvens que percorriam os céus. E deuses com caras de crocodilos brancos. Olhei o céu de novo e vi milhares de comboios a sairem das nuvens e os jardins voavam. Olhei-a e saltámos janela abaixo.

PROFESSORES VENDEM-SE NO EL CORTE INGLÊS

Cara Senhora,
Visto que de facto este País não aprende!
Visto que quem tinha razão era o Eça!
Visto que de facto ninguém quer apreender nada! Nada!
Visto que estes Senhores não respeitam ninguém. Nem os próprios filhos.
Proponho desde já que: O Governo proceda à venda destes tipos licenciados e teimosos!
Que os troque por cromos do Sandokam!
Que mande desde já trocar estes Professores nos postos da GALP por pontos. Assim, quando os Pais forem abastecer todas as criancinhas podem sempre dizer: Pai! Troca-me o Professor de matemática por uma bola amarela!
Mas Senhora!
Existem actualmente tantos projectos de interesse nacional. Que com certeza a Galp estaria de acordo em prestar mais este grande serviço tanto aos Pais como às criancinhas. (Isto claro, já para não falarmos da forma airosa como resolver esta chatice.)
Ora tendo Vexa um exército de chatos que ainda por cima estão por todo o lado. (a Galp também.)
Acho que seria de toda a conveniência tanto para Portugal como para estes tipos pararem de nos chatear.
Senhora,
como o compreenderá. E eles também
Proponho desde já a venda destes Artistas no El Corte Inglês! No Grumete embalados em papel celofane e claro devidamente etiquetados com o seguinte dizer: Professores Portugueses. Composição: Mal agradecidos, chatos, teimosos, recalcitrantes, fumados e com aromas de extrema esquerda. Este produto pode conter vestígios de rosas.
Se bem me lembro, existia uma frase fantástica para lhes pôr ao peito!
QUEM OS TEVE QUE OS ATURE!
Senhora,
tendo o País conhecimento que além de chatos agora também gostam de vestir de preto.
Proponho ainda outra solução: Que este tipos tenham uma formação em carpideira/os! (tipo RVCC é rápido! Fácil! E toda toda a malta o faz!) Só assim se pode fazer uma avaliação de facto em relação a estes preciosos e perniciosos tipos. Que chateiam por tudo e por nada.
Senhora!
Estes tipos começaram por ser teimosos logo que entraram na escola. Aqui é que são elas! O busílis da questão é este! Se não vejamos: Quando frequentaram a escola não levaram a porrada suficiente. Mas tudo isto só tem de facto um responsável o anterior governo! Ora como já nessa altura era a bandalheira generalizada aqui está o resultado!
Professores! Professores!
Não deixem para amanhã o que podem chatear hoje! A malta está convosco!
Mas Senhora,
ontem ouvi que: O Futuro é uma casa onde se chega e só lá está quem foi embora.
Beijinhos

25/02/08

O GOVERNO FEZ-SE AO MAR

Esta noite o Governo decidiu fazer-se ao mar.
Reunidos os Ministros nos gabinetes uns dos outros decidiram:
Arrumar as bóias com pescoços de patos, os decretos, as bússolas, olharam o céu, os ventos, as marés e então todos juntos embarcaram em Belém. No caís ficou um País.
Sem bóias com pescoços de patos, sem decretos, sem rumo, sem céu, sem vento e sem mar.
Mas ali no Mar da Palha viram o País cada vez mais ao longe. Viram como as pontes eram pequenas, viram como os comboios eram antigos, viram como os Professores gritavam, viram como os aeroportos eram de lego, viram os Bancos a brincar, viram os Hospitais a cair, viram como o povinho tinha que ter "formação", Vêem como os meninos vêem um brinquedo.
Depois agarraram-se às bóias com pescoços de patos. E comeram a bússola.

02/02/08

O CARTEIRO

Abriu a porta e viu que era o carteiro de outros tempos. Abriu o tempo e viu que eram cartas antigas com textos recentes. Abriu-as. Olhou o tempo e sorriu-lhe. Lá longe viu o carteiro de outros tempos. Levava as cartas antigas com textos recentes.

31/01/08

MAR

Naquele dia mergulhou num mar à procura de um peixe e não voltou.

Os homens reunidos chamaram o fundo dos mares. E ele veio com rochas nas costas, algas na cabeça e olhar de água, mãos de peixe e cabelo de ondas brancas. Pediram-lhe ajuda, falaram com ele e disseram-lhe: Sendo ele tão imenso como podia ter acontecido não encontrar um homem?

Nesse momento o grandíssimo mar abriu a boca e saíram caravelas com marinheiros antigos. Peixes nunca vistos e ondas aprisionadas havia anos. Cabeças de dragões e adamastores com tridentes.

Em pânico os homens fugiram da praia.

Eram milhares de homens em fuga terra adentro. Eram tantos, tantos que o mar decidiu fechar a boca. Nesse momento o mar que tinha invadido a terra dos homens, chamou as as caravelas, os marinheiros antigos, as rochas, os peixes, os dragões e os adamastores com tridentes.

Mas os marinheiros antigos não o ouviram. Na manhã seguinte, quando foram ver os seus barcos o mar já não lá estava.

25/01/08

SONHOS CAIADOS

Quando partir ficarão as paredes caiadas de sonhos.
As velhas caiadas de preto irão perguntar por mim aos pássaros do jardim.
Mas quando o Tejo for grande tão grande como os sonhos vou- lhes bater à porta.
Depois, vou caiá-los de muitas outras cores.
Mas quando voltar só terei que voltar a caiar os velhos sonhos.

12/01/08

O CAOS NA FNAC.

Nesse dia a Fnac fechou como era hábito às 24h. Nesse noite como era costume ficaram as estantes a suportar os livros. Os grandes, os pequenos, os romances, a poesia, os policiais, os infantis a banda desenhada e tantos outros.
Mas nessa livraria também habitavam músicas de muitos continentes. Muitas, mas muitas dessas músicas também tinham letras, poemas, romances e claro eram de todos.
Nessa noite como em todas a luz apagou-se por volta das 24h. Como também era hábito os romances quiseram sair das estantes. E saíram. Pé ante pé lombada a lombada. Depois, Chamaram a poesia que andava muito escondida os policiais que andavam sempre por perto. Os infantis sempre na brincadeira, a banda desenhada e tantos outros. Todos reunidos decidiram chamar as personagens, as paisagens, os mares, os céus, as árvores, as casas, os comboios, as charretes, os mordomo, os amantes, os castelos, os animais. E eles saiam. Saiam os mares, os céus, as árvores, as casas, os animais. Eram milhares de homens, mulheres, crianças, velhos, novos, japoneses, franceses, belgas. Eram paisagens tão diferentes, céus de tantas cores. E tantos os campos. Eram tantas as as aves que saiam voando.
Todos se cumprimentavam uns mais efusivamente que outros. Outros nem tanto. Ainda se gerou alguma perplexidade com as épocas. Depois, falaram dos seus autores, das suas épocas
eram tantas as coisas. Tantas tantas que se perderam nos tempos.
Depois, trocaram de roupas, de pares, comeram os jantares uns dos outros, montaram os cavalos, viajaram de zepelim, beberam os vinhos e ouviram as músicas e ainda dançaram noite dentro.
Quando começou o dia a raiar a confusão era tanta que já poucos sabiam onde era a sua estante. Depois, começaram os abraços, as vénias, os beija mãos, as trocas de direcções, os convites para se visitarem uns aos outros nas paginas numero tal. Encheram-se os zepelins as charretes montaram-se os cavalos,encheram-se os comboios.
Num ápice todos voltaram às suas estantes, às suas épocas, às suas páginas. Aos seus autores. Todos os mares mergulharam nas suas páginas, todos os céus, todos, mas todos.
Só a musica se ouvia quando soaram as nove horas e a porta se abriu.

09/01/08

MANDOU SEMEAR O MAR

Mandou semear o mar de flores silvestres e navega por ele. Depois, mandou semear um bosque de árvores azuis e voltou a remar, remar. Nesse momento sente-se a voar. Voou, voou e pousa nas nuvens. Depois, conta uma história à ave errante. Parte a lua em quartos, as estrelas em pontas e dá-a aos bandos que passam por ali. Depois, rema, rema e encontra um barco perdido entre uma tempestade de nuvens.
Mas mandou semear o mar de flores.