23/09/07

ERA PRIMAVERA, TALVEZ VERÃO.

Era Primavera, talvez Verão. Era assim desde pequeno, quando ia prá aquele lugar onde corriam os coelhos aos centos por estradas, de curvas e contra curvas. Depois da curva grande, a praia. Aquelas dunas, o mar imenso sempre revolto. A casa da descida do lado esquerdo, quando se chega, grande, virada ao mar e a casa cor de rosa que sempre me pareceu, uma Igreja, a das primas. Era a praia. As broas de mel das Tias, as criadas que levantavam as saias quando o mar vinha e desciam quando ia. Eram assim e vinham connosco da capital. Eram do norte e miúdas. Havia o casino (uma tasca de colmo circular). Tinha um homem dentro do colmo, o Zé. No casino bebiam-se cafés, comiam-se sombrinhas de chocolate, nessas noites as tias, as primas e as poucas famílias da praia, reuniam-se ali. E, assim, como manadas de putos, juntavamo-nos por várias mesas, por idades. Depois da subida para as casas, os maiores, os mais velhos faziam as suas fogueiras com a lenha apanhada durante o dia, ao longo da praia. Os maiores cantavam e tocavam viola, noite dentro. Eram noites de lua estreladas, claro, namoravam. Por vezes, nós os mais novos também íamos. Eram noites mágicas! Não havia luz nem água canalizada. A luz de candeeiros a petróleo o cheiro tenebroso invadia as casas. Os pavios sempre a caírem. Depois a água da cisterna, com ratos mortos, lagartixas e de manhã, os scones quentes. A praia deserta. Sempre deserta! As poucas pegadas existentes eram dos pescadores e das gaivotas brancas. Nunca compreendi como conseguiam acordar antes de mim. Depois havia a Vila, Aljezur. Com a padaria, o petróleo e por ai fora. E claro, os bolos de torresmos. Havia ainda a casa da Tia, o cavalo, os patos, as galinhas, as vacas, o leite e as vindimas! E a outra prima velha, muito velha. E, também, a criada Luísa, a fiel criada que sempre me pareceu não o ser (ainda hoje). Foi aqui neste local onde existia um Monte e um Clérigo. Onde fui mais feliz porque o fui mesmo! Porque a praia era minha! Porque só ouvia o mar, porque todas as dunas eram só minhas. Foi aqui onde a minha janela era o mar e a casa um navio. Foi aqui que o mar me contou histórias todas as noites. Aqui, onde Agosto e Setembro acabavam. Onde te conheci. Talvez não fosse nesta praia (porque sabes... já sou grande e isto já foi à muito tempo). Mas na Vila onde havia os jornais, os bolos de torresmos e os correios. Era Primavera ou talvez Verão. Foi aqui onde te encontrei e o aroma do café, do vento e do mar vinha de ti. Foi daqui que partimos, lembras-te? Era Primavera ou Verão? Mas olha ... nunca, nunca te esqueças, que neste mar o tempo corre. E depois só o vento se ouve ... ao longe. Mas olha ... Vem ver o mar. Vem!

1 comentário:

Anónimo disse...

Scones,pluto, eram os melhores scones do mundo feitos pela avó.
carlota