
Era Primavera, talvez Verão.
Era assim desde pequeno, quando ia prá
aquele lugar onde corriam os coelhos aos centos por estradas, de curvas e contra curvas. Depois da curva grande, a praia. Aquelas dunas, o mar imenso sempre revolto. A casa da descida do lado esquerdo, quando se chega, grande, virada ao mar e a casa cor de rosa que sempre me
pareceu, uma
Igreja, a das primas.
Era a praia.
As broas de mel das Tias, as criadas que levantavam as saias quando o mar vinha e desciam quando ia. Eram assim e vinham
connosco da capital. Eram do norte e miúdas.
Havia o casino (uma tasca de colmo circular). Tinha um homem dentro do colmo, o Zé.
No casino bebiam-se cafés, comiam-se
sombrinhas de chocolate, nessas noites as tias, as primas e as poucas
famílias da praia, reuniam-se ali. E, assim, como manadas de
putos,
juntavamo-nos por várias mesas, por idades.
Depois da subida para as casas, os maiores, os mais velhos faziam as suas
fogueiras com a lenha apanhada durante o dia, ao longo da praia. Os maiores cantavam e tocavam viola, noite dentro. Eram noites de lua estreladas, claro, namoravam. Por vezes, nós os mais novos também
íamos. Eram noites mágicas! Não havia luz nem água canalizada. A luz de candeeiros a petróleo o cheiro tenebroso invadia as casas. Os
pavios sempre a
caírem. Depois a água da cisterna, com ratos mortos, lagartixas e de manhã, os
scones quentes. A praia deserta. Sempre deserta! As poucas pegadas existentes eram dos pescadores e das gaivotas brancas. Nunca
compreendi como conseguiam acordar antes de mim.
Depois havia a Vila, Aljezur. Com a padaria, o petróleo e por ai fora. E claro, os bolos de torresmos. Havia ainda a casa da Tia, o cavalo, os patos, as galinhas, as vacas, o leite e as vindimas! E a outra prima velha, muito velha. E, também, a criada
Luísa, a fiel criada que sempre me
pareceu não o ser (ainda hoje). Foi aqui neste local onde existia um Monte e um Clérigo. Onde fui mais feliz porque o fui mesmo! Porque a praia era minha! Porque só
ouvia o mar, porque todas as dunas eram só minhas. Foi aqui onde a minha janela era o mar e a casa um navio.
Foi aqui que o mar me contou histórias todas as noites. Aqui, onde Agosto e Setembro acabavam. Onde te conheci. Talvez não fosse nesta praia (porque sabes... já sou grande e isto já foi à muito tempo). Mas na Vila onde havia os jornais, os bolos de torresmos e os correios.
Era Primavera ou talvez Verão. Foi aqui onde te encontrei e o aroma do café, do vento e do mar vinha de ti.
Foi daqui que partimos, lembras-te? Era Primavera ou Verão?
Mas olha ... nunca, nunca te esqueças, que neste mar o tempo corre.
E depois só o vento se ouve ... ao longe.
Mas olha ... Vem ver o mar.
Vem!
1 comentário:
Scones,pluto, eram os melhores scones do mundo feitos pela avó.
carlota
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