27/10/08

O HISTÓRICO

Hoje quero correr depressa olhar o passado e fugir outra vez.
Deixa-me voltar a ser sereno e não me digas nada, porque sinto-te aqui e agora.
Mas olha, não me magoes tanto assim, só fujo de ti sabes porquê? Porque vieste todo de uma vez. Vai-te embora passado!

17/10/08

CHOCOLATES E AMOR LIVRE

Esta coisa do amor põe-me doido. Anda um homem anos e anos a ser educado para ser cortez, cavalheiro enfim... um homem a sério. (Sim porque lá em casa era assim).
Mas sabem, esta mania de termos só uma mulher, lá que dá que pensar dá.
Ora andava eu nesta triste vida de homem só, quando me caiu, vinda do céu, esta coisa do amor livre. Mas livre de quê? Bem, livre já eu sou e há muito muito tempo. Agora esta do amor livre só mim é que acontece, sim porque um tipo como eu pode estar preparado para tudo nesta vida. Agora mais livre? Mais?
Mas deixem lá, como a ideia até é fascinante e claro, como o amor que tenho, ainda não foi preso por uma louca qualquer. O melhor mesmo, é manter-me neste estado como estou. Vocês não sabem mas queiram ou não, tenho mesmo esta enorme capacidade de amar. Gostem ou não amo mesmo muita gente. A começar por uma Ulrike. Esta dama bateu-me à porta um dia e propôs-me o seguinte:
- Caro Pedro, vou encher-te a casa de amor!
Ora um tipo fica sempre perplexo nestas ocasiões, ainda por cima vinda da Ulrike. E claro disse, que sim. Também quem era o tipo que diria que não à Ulrike? Mas quem é a Ulrike?
Esta encantadora rapariga é somente a representante do amor livre aqui do burgo. Sim vivo neste país sim vivo em Portugal!
Ora andava eu à espera do amor e não é que o sacana não chegava? Mas claro pelo o amor a malta espera sempre. Sempre!
Como já pressentia algum para a troca continuei esperando até que um dia batem-me à porta e pimba! Era o amor! Mas que estranha forma de amor este, primeiro veio de carrinha 4X4, depois em caixas de plástico cor de laranja e dentro destas vinham outras de cartão castanho. Para o transportar vinham ainda pingando olhares de amor, mais duas raparigas. (Cá para mim faziam parte das caixas).
Lá lhes disse aqui em casa era hábito o amor ficar na cozinha, arrumado. Ainda pensei que estranhassem, mas como o amor é um facto muito diferente, sorriam-me de novo.
Arrumado o amor em caixas de plástico, as raparigas foram-se embora. Não sem antes me darem montes de beijos com aroma a chocolates. (O que por sinal é o normal nas pessoas que amam).
Ora um tipo como eu que vive com o amor na cozinha tem sempre tentações que vocês não têm. Andava eu ali de um lado para o outro à volta do amor, quando achei que o melhor mesmo era ir para a cama. E o sacana do amor na cozinha dentro de caixas. Só mesmo a mim!
Ora quando vou para a cama leio sempre o mesmo livro sobre astros "Abrir Astros nos Dias de Hoje. ( que, por sinal, ainda não acabei).
Bem vistas as coisas, esta de dormir com o amor na cozinha não dá! Ainda pensei telefonar para a Ulrike mas era já tarde e podia ainda acordar aquele local. E aí sim, era a revolução neste mundo! Vocês não sabem, mas ela vive num sítio onde só existe amor livre. E acordá-la a esta hora podia ser fatal para os outros seres residentes nas proximidades. Imaginem o que seria se todo aquele amor livre saísse por aí? Provavelmente amanhã já nada seria igual neste mundo.
Ainda voltei para a cozinha e as caixas nada me disseram. Ainda as beijei e nada. Mas que estranho amor este! Estando a manhã a nascer resolvi ligar para o SOS amor e levantar-lhes esta questão: Como desencaixotar o amor sem o perder? Ninguém sabia como resolver esta delicada questão. Ainda chamaram o técnico do amor livre, mas, como era livre de momento não estava.
Trabalhar hoje, não vou! Resolvi então ligar para as tais carregadoras do amor e colocar-lhes o meu problema. Tentei uma vez, outra e mais outra, por fim lá atenderam, pareciam felizes por me ouvirem. Questionei-as com o meu estranho assunto: O amor não me deixa dormir, o que faço? Riram-se e voltaram-se a rir. E responderam-me só isto: Solta-o, ele é livre como tu!

PORTUGAL SEM POBRES É COMO O MAR SEM PEIXES

O Jornal Público de hoje diz-nos que: Portugal é o país europeu que mais reduziu a pobreza.
Pois muito bem, matem-se os restantes 1,8 milhões de pobres desta coisa. E deixemos-nos de lamúrias! Portugal sem pobres é como o mar sem peixes. Nada!!
Quer Portugal agora a diminuição destas taxas de pobreza, mas afinal os pobrezinhos não fazem falta? Não pagam impostos? Não arrumam os carrinhos da malta? Não são a causa das nossas nobres causas?
Ora um país sem pobres não existe como país, nação ou outra coisa qualquer. Imaginemos o que cada um de nós faria sem os seus pobres? A criadagem fugia lá de casa, e os padeiros já se foram há muito, as beatas já não tinham os pobrezinhos nem os aleijados do comércio, os cegos começavam a ver como nós fazemos. E claro, punham-se a milhas. Os pobres gatos deixavam de ter acesso às espinhas das pobres velhas. Os pombos, coitados, morreriam de fome e claro, os padrecos, deambulariam por o céu em busca de alimento. Sim porque sem pobres não há deuses que se aguentem, nem santinhos que voem por aí.
Meus Senhores!
Foram os pobres que descobriram como a nossa riqueza é fantástica.
E agora quer a Europa acabar com estes visionários? Francamente! Ser pobre é óptimo! Cria resistências que mais tarde ou mais cedo lhes serão vitais. Estes seres são mais resistentes às doenças que nós. Sim que nós! Os pobres mesmo sem a nossa lareira e o nosso Cartuxa tinto. Resistem sempre mais, se não vejamos; Sendo a crise um fenómeno do diabo o melhor mesmo é voltar a ser mais católico. Enfim.... perdoai-me Senhor.
Mas Senhor! Ainda aí estás?

14/10/08

OS DUENDES DEPOIS

Deixa o vazio e vem cantar nesta floresta de duendes, não inventes histórias de jornais e tvs. Vês como te ris? Vês? Acredita as coisas mudam movem-se e realizam-se, e afinal, que sabes tu do amor? Deste e dos outros, diz-me porque nada sabes de ti? Deixa-os contar-te histórias de aviões, bolsas e Buches. Trás os sonhos, não percas o tempo. E vem, vem voar nesta dança de novos risos. E ouve as nuvens.
Mas deixa-me falar-te neste fórum da verdade, deixa-me contar-te como aqui a luz o movimento e a claridade se reencontram. Estes sorrisos são meus.
Os duendes vêm depois.

12/10/08

OS HOMEMS CAIEM DO CÉU

Daquele céu caiam enormes pacotes de muitas cores e formas. Era sempre assim quando chegava a Primavera. E aqueles enormes pacotes desciam do céu . Mas fora nesse dia que os homens daquele lugar haviam partido havia anos e anos.

Ali ninguém entendia o porquê desta decisão. Mas foi numa manhã de grandes chuvas e trovoada que todos partiram. Partiram os homens deixando este sítio repleto de mulheres, crianças, rios, casas e muitas viúvas. Viúvas não daqueles que partiram, mas daqueles que ainda não voltaram.

Naquele dia de festa como sempre reuniram-se em torno daqueles pacotes caídos do céu. Juntaram-nos por cores, peso e medidas e ainda houve quem quisesse devolve-los ao céu com receio de alguma doença. Mas a decisão colectiva não foi essa.

Foi abrirem os pacotes como sempre nas suas casas. Como sempre ajudaram-se mutuamente no transporte de casa em casa e de rua em rua. Era costume serem preciosos os conteúdos vindos do céu mas estranhamente começaram a sentir-se inquietas, ansiosas, revoltadas e inseguras. Em todas as ruas e praças a sensação era a mesma.

Lentamente começaram a ouvir o ranger dos pacotes e fugiram deixando-os nas ruas, praças, campos, casas, pontes e hortas. Por toda a aldeia se ouvia aquele ranger cada vez mais aterrador. As ruas ficaram desertas, as janelas fechadas, as chaminés trancadas, as crianças caladas e o vento parou.

De rompante ouviu-se um monumental estoiro de madeira a quebrar. E as casas uniram-se mais. As ruas fugiram e deixaram as praças mais sós do que nunca. De repente, como se de um trovoar se tratasse ouviram-se passos imensos e tremendos.
Ainda ouviram vozes vindas do além, ainda houve quem visse uma perna maior que a sua casa, outras houve que disseram ser homens de grandes barbas azuis e de botas gigantes.
Foi assim que amanheceu, foi assim que voltaram as praças às ruas ainda desertas. E foi também assim que as casas se voltaram a abrir. Abriram-se ainda as janelas e saíram mulheres e crianças. Mas já ao longe se pressentia o vento.
Nas praças ainda houve quem visse os rastos das enormíssimas botas, quem tenha visto os homens de barbas e os longos cabelos. Uns diziam azuis outros de outras cores. Mas eram os homens. Ainda se disse serem aqueles que fugiram, ainda se disse serem os maridos fugidos e os pais ausentes.
Ainda assim, reuniram-se para consertar os estragos deixados por as enormes botas nas praças e ruas. Consertaram as rachas das casas, os vidros quebrados e voltaram a colocar as habitações nas suas ruas de sempre.
Ainda era manhã quando chegou o vento às ruas e praças. Mas trouxe consigo um cheiro antigo.
Era o cheiro dos maridos desaparecidos ausentes e fugidos. Era o cheiro da última madrugada.
Primeiro chegaram as grandes pernas e troncos, mais atrás as cabeças. Chegaram de fraldas e chuchas. Olharam as suas mulheres e pediram-lhes beijos. Elas deram-lhes os peitos.

08/10/08

PARA A ALICE

Um dia, quando os teus pais te contarem que os ursos falam. Acredita. Quando um dia eles te contarem histórias ouve.
Sabes Alice, os ursos sabem muitas coisas, irão contar-te histórias de patos amarelos que vivem em lagos nos céus. Mas olha, os patos amarelos têm asas e voam e as asas fazem voar. Um dia, quando um pássaro azul pousar no teu chapéu cor de trigo não lhe digas nada. Deixa-o cantar. Conta-lhe uma história porque sabes Alice, os pássaros são amigos dos ursos e das flores que dormem no teu quarto. Um dia, quando descobrires as grandes searas semeadas de falcões e flores, vai e voa! Voa! Hoje é tua esta Primavera.