Esta coisa do amor põe-me doido. Anda um homem anos e anos a ser educado para ser cortez, cavalheiro enfim... um homem a sério. (Sim porque lá em casa era assim).
Mas sabem, esta mania de termos só uma mulher, lá que dá que pensar dá.
Ora andava eu nesta triste vida de homem só, quando me caiu, vinda do céu, esta coisa do amor livre. Mas livre de quê? Bem, livre já eu sou e há muito muito tempo. Agora esta do amor livre só mim é que acontece, sim porque um tipo como eu pode estar preparado para tudo nesta vida. Agora mais livre? Mais?
Mas deixem lá, como a ideia até é fascinante e claro, como o amor que tenho, ainda não foi preso por uma louca qualquer. O melhor mesmo, é manter-me neste estado como estou. Vocês não sabem mas queiram ou não, tenho mesmo esta enorme capacidade de amar. Gostem ou não amo mesmo muita gente. A começar por uma Ulrike. Esta dama bateu-me à porta um dia e propôs-me o seguinte:
- Caro Pedro, vou encher-te a casa de amor!
Ora um tipo fica sempre perplexo nestas ocasiões, ainda por cima vinda da Ulrike. E claro disse, que sim. Também quem era o tipo que diria que não à Ulrike? Mas quem é a Ulrike?
Esta encantadora rapariga é somente a representante do amor livre aqui do burgo. Sim vivo neste país sim vivo em Portugal!
Ora andava eu à espera do amor e não é que o sacana não chegava? Mas claro pelo o amor a malta espera sempre. Sempre!
Como já pressentia algum para a troca continuei esperando até que um dia batem-me à porta e pimba! Era o amor! Mas que estranha forma de amor este, primeiro veio de carrinha 4X4, depois em caixas de plástico cor de laranja e dentro destas vinham outras de cartão castanho. Para o transportar vinham ainda pingando olhares de amor, mais duas raparigas. (Cá para mim faziam parte das caixas).
Lá lhes disse aqui em casa era hábito o amor ficar na cozinha, arrumado. Ainda pensei que estranhassem, mas como o amor é um facto muito diferente, sorriam-me de novo.
Arrumado o amor em caixas de plástico, as raparigas foram-se embora. Não sem antes me darem montes de beijos com aroma a chocolates. (O que por sinal é o normal nas pessoas que amam).
Ora um tipo como eu que vive com o amor na cozinha tem sempre tentações que vocês não têm. Andava eu ali de um lado para o outro à volta do amor, quando achei que o melhor mesmo era ir para a cama. E o sacana do amor na cozinha dentro de caixas. Só mesmo a mim!
Ora quando vou para a cama leio sempre o mesmo livro sobre astros "Abrir Astros nos Dias de Hoje. ( que, por sinal, ainda não acabei).
Bem vistas as coisas, esta de dormir com o amor na cozinha não dá! Ainda pensei telefonar para a Ulrike mas era já tarde e podia ainda acordar aquele local. E aí sim, era a revolução neste mundo! Vocês não sabem, mas ela vive num sítio onde só existe amor livre. E acordá-la a esta hora podia ser fatal para os outros seres residentes nas proximidades. Imaginem o que seria se todo aquele amor livre saísse por aí? Provavelmente amanhã já nada seria igual neste mundo.
Ainda voltei para a cozinha e as caixas nada me disseram. Ainda as beijei e nada. Mas que estranho amor este! Estando a manhã a nascer resolvi ligar para o SOS amor e levantar-lhes esta questão: Como desencaixotar o amor sem o perder? Ninguém sabia como resolver esta delicada questão. Ainda chamaram o técnico do amor livre, mas, como era livre de momento não estava.
Trabalhar hoje, não vou! Resolvi então ligar para as tais carregadoras do amor e colocar-lhes o meu problema. Tentei uma vez, outra e mais outra, por fim lá atenderam, pareciam felizes por me ouvirem. Questionei-as com o meu estranho assunto: O amor não me deixa dormir, o que faço? Riram-se e voltaram-se a rir. E responderam-me só isto: Solta-o, ele é livre como tu!